A
Baia-do-Sol é a povoação mais antiga da ilha do Mosqueiro, uma vez que ali
chegaram os primeiros colonizadores portugueses vindos de São Luís do Maranhão.
Banhada pela baia do mesmo nome, localiza-se ao norte, em frente a Colares, a
antiga ilha do Sol, onde viviam aldeados os tupinambaranas. Habitada no
longínquo passado pelos morobiras, também exímios pescadores da mesma nação,
possui praias largas, favoráveis aos ventos e às correntezas das enchentes, as
quais eram utilizadas pelos índios, no retorno da pescaria, como local
apropriado ao processo de conservação do pescado, no preparo do moqueio, que
consiste em assar o peixe no moquém (grelha de madeira fresca), ao calor brando
da fogueira. Essa atividade indígena, também desenvolvida nas praias do
sudoeste banhadas pela baia de Santo Antônio, fixou a denominação de ilha do
Moqueio (atualmente Mosqueiro), substituindo o registro cartográfico de ilha de
Santo Antônio existente em 1.666, no mapa de João Teixeira Albernaz. Praia
Grande: uma das praias do moqueio, técnica indígena de conservação do pescado.
Nessa região denominada Província dos
Tupinambás, viviam os índios há 12.000 anos, até que foram impiedosamente
dizimados pelos conquistadores europeus como os capitães Jerônimo Fragoso e
Bento Maciel Parente, embora a construção e o progresso de Belém, em mais de
dois séculos, tenham dependido da imprescindível participação nativa, tanto nas
edificações quanto no abastecimento da cidade com o comércio de suas colheitas,
frutas, drogas-do-sertão, mandioca, farinhas, a caça e o peixe tão abundante
nas águas do rio-mar.
O nome da povoação, hoje um bairro do Distrito do
Mosqueiro, reafirma a denominação da baia formada pelo rio Pará, tão sugestiva
a ponto de dizer-se que o Sol nasce e morre ali, na visão de quem observa à sua
frente, sobre as águas, a trajetória eterna do astro-rei, desde o seu berço na
ilha do Sol até seus derradeiros raios para as bandas do Paraíso. Fascinados,
os índios cultuavam o deus Sol, presença constante a iluminar sua faina diária,
proporcionando-lhes o peixe, a caça e os frutos da terra. Primeiro
aventureiro europeu a descortinar tão paradisíaco cenário, o espanhol Vicente
Yánes Pinzón ali aportou em janeiro de 1.500 e, na praia, onde pôde deleitar-se
com o clima tropical atenuado pelo vento norte, observou maravilhado a
imensidão de águas doces e esbranquiçadas pelos sedimentos a que chamou “mar
dulce’, em sua perene e titânica luta contra o avanço do oceano sobre as terras
verdejantes. Estava ele na costa oriental do rio Pará, braço sul do Amazonas. Local onde se tem
uma visão panorâmica da baia do Sol.
Outro explorador espanhol, Francisco de Orellana, de volta ao delta amazônico em 1.545, fundeara, com certeza, sua nau na baia do Sol, entre as ilhas de Colares e do Mosqueiro. É provável ter desembarcado na praia mosqueirense, já que existe relato de sua surpresa ao constatar a abundância de peixes e frutas.
Local entre as ilhas de Colares e do Mosqueiro onde Francisco de Orellana fundeara sua nau.
é provável que Francisco de Orellana tenha desembarcado às proximidades da Fazendinha
Até o fundador da cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, Francisco Caldeira Castelo Branco, ao deparar-se, em 1.616, com a orla praiana da enseada que se abre para a baia do Sol, pensara ali instalar o primeiro núcleo de colonização portuguesa, não o fazendo pela dificuldade de desembarque das naus causada pelas enormes maresias da tarde, tão comuns naquela costa da ilha.
As terras da Baia-do-Sol foram doadas como sesmarias ao Padre Antônio Nunes da Silva, em 6 de dezembro de 1.746. Seus herdeiros, utilizando a mão-de-obra de escravos africanos, libertados somente no dia 6 de abril de 1.888, construíram e fizeram florescer sítios agrícolas tão importantes que tornaram a família Silva a mais tradicional daquela parte da ilha. Como herança, o sítio “Paraiso,” antes denominado “Santana”, coube a Fernando Silva e, depois, à família Travassos, pelo casamento de sua filha Ana Silva com o português José Travassos. O sítio “Paissandu” foi herdado por Jorge Silva, propriedade que passaria à família Pamplona pelo casamento do dono com Adelina Pamplona. As terras em frente à ilha das Pombas, chamadas, naquela época, de Paraguai—talvez uma referência à participação paraense naquela guerra—foram requeridas por Leocádio José da Silva, que, motivado por sua grande devoção à Virgem Imaculada, mudou o nome do Sítio para Conceição. A Casa Grande foi erguida em 1.864 e, anexa a ela, Leocádio Silva mandou construir uma Capela para a Santa, cuja licença foi concedida pelo Bispado de Belém e cuja bênção foi dada pelo Padre Castilho, Vigário de Benevides, no dia 10 de janeiro de 1.855.
Partidário ferrenho de Lauro Sodré, Leocádio Silva foi o chefe político da mais alta expressão na Baia-do-Sol, na segunda metade do século XIX. Casado com Maria do Carmo Silva gerou sete filhos, os quais mantiveram a propriedade na família: Leocádio da Silva Júnior, Izabel da Silva, Florêncio José da Silva, Mariana Augusta da Silva, Rita do Espírito Santo Silva, Antônia Paes e Silva (que, formada na Escola Normal, foi professora no primeiro Grupo Escolar do Mosqueiro) e Gabriel Arcanjo da Silva.
No extremo oriental da ilha, Tomaz Silva instalou-se nas terras que ficaram conhecidas como Fazendinha da Baia-do-Sol. Seu filho Rufino Antônio da Silva, cuja prole era numerosa, iniciou a povoação do lugar e foram seus herdeiros, Raimundo Nonato da Silva, Jorge Florêncio da Silva, Etelvina Camila da Silva e Maria Veneranda Trindade que, no dia 20 de setembro de 1.958, doaram à Irmandade de São Sebastião o terreno para a construção da nova Capela do Santo Padroeiro da localidade, substituindo a antiga erigida pela família e preservando a tradição religiosa que ali se instalara desde os primeiros tempos da ocupação. Aliás, as tradições católicas, entre as quais citamos a Festividade do Divino Espírito Santo na praia do Bacuri, chegaram com os jesuítas da Missão Myribira, responsável pela catequização dos indígenas da ilha do Mosqueiro. Capela do Divino Espírito Santo, na praia do Bacuri.
Outro explorador espanhol, Francisco de Orellana, de volta ao delta amazônico em 1.545, fundeara, com certeza, sua nau na baia do Sol, entre as ilhas de Colares e do Mosqueiro. É provável ter desembarcado na praia mosqueirense, já que existe relato de sua surpresa ao constatar a abundância de peixes e frutas.
Local entre as ilhas de Colares e do Mosqueiro onde Francisco de Orellana fundeara sua nau.
é provável que Francisco de Orellana tenha desembarcado às proximidades da Fazendinha
Até o fundador da cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, Francisco Caldeira Castelo Branco, ao deparar-se, em 1.616, com a orla praiana da enseada que se abre para a baia do Sol, pensara ali instalar o primeiro núcleo de colonização portuguesa, não o fazendo pela dificuldade de desembarque das naus causada pelas enormes maresias da tarde, tão comuns naquela costa da ilha.
As terras da Baia-do-Sol foram doadas como sesmarias ao Padre Antônio Nunes da Silva, em 6 de dezembro de 1.746. Seus herdeiros, utilizando a mão-de-obra de escravos africanos, libertados somente no dia 6 de abril de 1.888, construíram e fizeram florescer sítios agrícolas tão importantes que tornaram a família Silva a mais tradicional daquela parte da ilha. Como herança, o sítio “Paraiso,” antes denominado “Santana”, coube a Fernando Silva e, depois, à família Travassos, pelo casamento de sua filha Ana Silva com o português José Travassos. O sítio “Paissandu” foi herdado por Jorge Silva, propriedade que passaria à família Pamplona pelo casamento do dono com Adelina Pamplona. As terras em frente à ilha das Pombas, chamadas, naquela época, de Paraguai—talvez uma referência à participação paraense naquela guerra—foram requeridas por Leocádio José da Silva, que, motivado por sua grande devoção à Virgem Imaculada, mudou o nome do Sítio para Conceição. A Casa Grande foi erguida em 1.864 e, anexa a ela, Leocádio Silva mandou construir uma Capela para a Santa, cuja licença foi concedida pelo Bispado de Belém e cuja bênção foi dada pelo Padre Castilho, Vigário de Benevides, no dia 10 de janeiro de 1.855.
Partidário ferrenho de Lauro Sodré, Leocádio Silva foi o chefe político da mais alta expressão na Baia-do-Sol, na segunda metade do século XIX. Casado com Maria do Carmo Silva gerou sete filhos, os quais mantiveram a propriedade na família: Leocádio da Silva Júnior, Izabel da Silva, Florêncio José da Silva, Mariana Augusta da Silva, Rita do Espírito Santo Silva, Antônia Paes e Silva (que, formada na Escola Normal, foi professora no primeiro Grupo Escolar do Mosqueiro) e Gabriel Arcanjo da Silva.
No extremo oriental da ilha, Tomaz Silva instalou-se nas terras que ficaram conhecidas como Fazendinha da Baia-do-Sol. Seu filho Rufino Antônio da Silva, cuja prole era numerosa, iniciou a povoação do lugar e foram seus herdeiros, Raimundo Nonato da Silva, Jorge Florêncio da Silva, Etelvina Camila da Silva e Maria Veneranda Trindade que, no dia 20 de setembro de 1.958, doaram à Irmandade de São Sebastião o terreno para a construção da nova Capela do Santo Padroeiro da localidade, substituindo a antiga erigida pela família e preservando a tradição religiosa que ali se instalara desde os primeiros tempos da ocupação. Aliás, as tradições católicas, entre as quais citamos a Festividade do Divino Espírito Santo na praia do Bacuri, chegaram com os jesuítas da Missão Myribira, responsável pela catequização dos indígenas da ilha do Mosqueiro. Capela do Divino Espírito Santo, na praia do Bacuri.
Este
coreto fica na pequena praça da praia da Baia-do-Sol na Ilha de Mosqueiro
”Na região da Baía do Sol, duas casas religiosas se instalaram: a
primeira no local denominado “Fazenda” e a segunda no “Bacuri”“. Aquela tem
como orago São Sebastião e esta, o Divino Espírito
Santo. É curiosa a manifestação religiosa anual dos devotos desta última,
em alegre procissão, verdadeira romaria fluvial, à base de canoas, barcaças,
ubás, que se acumulam nas águas correntes da baía, levando seu protetor
abençoando a fartura piscosa dos rios. Das dezenas de promessas de sua gente
simples que então apela, pescadores e lavradores unidos pelo coração e pela
unção religiosa do meio, muitas benesses chegam a promover espanto no seio da
pequenina comunidade que nasce, vive e morre naquele lugar admirável, entre
rios e coqueirais, praias a invadir matas e capoeiras, num sonho de permanentes
esperanças de melhores dias.
Já no arraial da
“Fazenda” as festividades de São Sebastião se consagram entre o povo com aquela
mesma sentimentalidade interiorana que se verifica em outros pontos do Estado.
Sempre as comemorações do dia do padroeiro se exaltam através da presença do
sacerdote, a composição de sua diretoria-da-festa, as danças e bebedeiras, após
o culto religioso pregado no templo, quando não faltam as rezadeiras, o
pagamento às promessas e a celebração da Santa Missa. “Os folguedos entram pela
noite adentro e foliões despertam com a madrugada dando vida ao lugar,
estreitando as amizades, louvando a Deus pela boa sorte, saúde e ótima colheita
nas correntes do rio que se alarga até o horizonte.”
Divino Espírito Santo, na praia do Bacuri.
Antes da rodovia e da ponte ligando o Mosqueiro ao continente, a Baia-do-Sol ficava isolada do restante da ilha, levando sua vida própria e independente da Vila, situada no extremo sul, e seu desenvolvimento restringia-se, sobretudo, às atividades socioeconômicas e políticas promovidas pelo clã com características feudais que ali se fixara desde os meados do século XIX, o que concorreu, de certa forma, para a preservação dos recursos naturais de grandes áreas daquela região.
Antes da rodovia e da ponte ligando o Mosqueiro ao continente, a Baia-do-Sol ficava isolada do restante da ilha, levando sua vida própria e independente da Vila, situada no extremo sul, e seu desenvolvimento restringia-se, sobretudo, às atividades socioeconômicas e políticas promovidas pelo clã com características feudais que ali se fixara desde os meados do século XIX, o que concorreu, de certa forma, para a preservação dos recursos naturais de grandes áreas daquela região.
Capela
do Divino Espírito Santo, na praia do Bacuri.
Aliás, as tradições
católicas, entre as quais citamos a Festividade do Divino Espírito Santo na
praia do Bacuri, chegaram com os jesuítas da Missão Myribira, responsável pela
catequização dos indígenas da ilha do Mosqueiro.
Capela de São
Sebastião, na Fazendinha, em terreno doado pela família Silva no ano de
1.958.
É provável que
Francisco de Orellana tenha desembarcado às proximidades da Fazendinha
Antes da rodovia e da ponte ligando o Mosqueiro ao
continente, a Baia-do-Sol ficava isolada do restante da ilha, levando sua vida
própria e independente da Vila, situada no extremo sul, e seu desenvolvimento
restringia-se, sobretudo, às atividades socioeconômicas e políticas promovidas
pelo clã com características feudais que ali se fixara desde os meados do
século XIX, o que concorreu, de certa forma, para a preservação dos recursos
naturais de grandes áreas daquela região.
Até o fundador da
cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, Francisco Caldeira Castelo Branco,
ao deparar-se, em 1.616, com a orla praiana da enseada que se abre para a baia
do Sol, pensara ali instalar o primeiro núcleo de colonização portuguesa, não o
fazendo pela dificuldade de desembarque das naus causada pelas enormes maresias
da tarde, tão comuns naquela costa da ilha.
As terras da
Baia-do-Sol foram doadas como sesmarias ao Padre Antônio Nunes da Silva, em 6
de dezembro de 1.746. Seus herdeiros, utilizando a mão-de-obra de escravos
africanos, libertados somente no dia 6 de abril de 1.888, construíram e fizeram
florescer sítios agrícolas tão importantes que tornaram a família Silva a mais
tradicional daquela parte da ilha.
Como herança, o
sítio “Paraiso,” antes denominado “Santana”, coube a Fernando Silva e, depois,
à família Travassos, pelo casamento de sua filha Ana Silva com o português José
Travassos. O sítio “Paissandu” foi herdado por Jorge Silva, propriedade que
passaria à família Pamplona pelo casamento do dono com Adelina Pamplona. As
terras em frente à ilha das Pombas, chamadas, naquela época, de Paraguai—talvez
uma referência à participação paraense naquela guerra—foram requeridas por
Leocádio José da Silva, que, motivado por sua grande devoção à Virgem
Imaculada, mudou o nome do Sítio para Conceição. A Casa Grande foi erguida em
1.864 e, anexa a ela, Leocádio Silva mandou construir uma Capela para a Santa,
cuja licença foi concedida pelo Bispado de Belém e cuja bênção foi dada pelo
Padre Castilho, Vigário de Benevides, no dia 10 de janeiro de 1.855.
Partidário ferrenho
de Lauro Sodré, Leocádio Silva foi o chefe político da mais alta expressão na
Baia-do-Sol, na segunda metade do século XIX. Casado com Maria do Carmo Silva
gerou sete filhos, os quais mantiveram a propriedade na família: Leocádio da
Silva Júnior, Izabel da Silva, Florêncio José da Silva, Mariana Augusta da
Silva, Rita do Espírito Santo Silva, Antônia Paes e Silva (que, formada na
Escola Normal, foi professora no primeiro Grupo Escolar do Mosqueiro) e Gabriel
Arcanjo da Silva.
No extremo oriental
da ilha, Tomaz Silva instalou-se nas terras que ficaram conhecidas como
Fazendinha da Baia-do-Sol. Seu filho Rufino Antônio da Silva, cuja prole era
numerosa, iniciou a povoação do lugar e foram seus herdeiros, Raimundo Nonato
da Silva, Jorge Florêncio da Silva, Etelvina Camila da Silva e Maria Veneranda
Trindade que, no dia 20 de setembro de 1.958, doaram à Irmandade de São
Sebastião o terreno para a construção da nova Capela do Santo Padroeiro da
localidade, substituindo a antiga erigida pela família e preservando a tradição
religiosa que ali se instalara desde os primeiros tempos da ocupação.
A Baia-do-Sol é a
povoação mais antiga da ilha do Mosqueiro, uma vez que ali chegaram os
primeiros colonizadores portugueses vindos de São Luís do Maranhão. Banhada
pela baia do mesmo nome, localiza-se ao norte, em frente a Colares, a antiga
ilha do Sol, onde viviam aldeados os tupinambaranas. Habitada no longínquo
passado pelos morobiras, também exímios pescadores da mesma nação, possui
praias largas, favoráveis aos ventos e às correntezas das enchentes, as quais
eram utilizadas pelos índios, no retorno da pescaria, como local apropriado ao
processo de conservação do pescado, no preparo do moqueio, que consiste em
assar o peixe no moquém (grelha de madeira fresca), ao calor brando da
fogueira. Essa atividade indígena, também desenvolvida nas praias do sudoeste
banhadas pela baia de Santo Antônio, fixou a denominação de ilha do Moqueio
(atualmente Mosqueiro), substituindo o registro cartográfico de ilha de Santo
Antônio existente em 1.666, no mapa de João Teixeira Albernaz.
Praia Grande: uma
das praias do moqueio, técnica indígena de conservação do pescado
Nessa região
denominada Província dos Tupinambás, viviam os índios há 12.000 anos, até que
foram impiedosamente dizimados pelos conquistadores europeus como os capitães
Jerônimo Fragoso e Bento Maciel Parente, embora a construção e o progresso de
Belém, em mais de dois séculos, tenham dependido da imprescindível participação
nativa, tanto nas edificações quanto no abastecimento da cidade com o comércio
de suas colheitas, frutas, drogas-do-sertão, mandioca, farinhas, a caça e o
peixe tão abundante nas águas do Riomar.
O nome da povoação,
hoje um bairro do Distrito do Mosqueiro, reafirma a denominação da baia formada
pelo rio Pará, tão sugestiva a ponto de dizer-se que o Sol nasce e morre ali,
na visão de quem observa à sua frente, sobre as águas, a trajetória eterna do
astro-rei, desde o seu berço na ilha do Sol até seus derradeiros raios para as
bandas do Paraíso. Fascinados, os índios cultuavam o deus Sol, presença
constante a iluminar sua faina diária, proporcionando-lhes o peixe, a caça e os
frutos da terra.
Primeiro
aventureiro europeu a descortinar tão paradisíaco cenário, o espanhol Vicente
Yánes Pinzón ali aportou em janeiro de 1.500 e, na praia, onde pôde deleitar-se
com o clima tropical atenuado pelo vento norte, observou maravilhado a
imensidão de águas doces e esbranquiçadas pelos sedimentos a que chamou “mar
dulce’, em sua perene e titânica luta contra o avanço do oceano sobre as terras
verdejantes. Estava ele na costa oriental do rio Pará, braço sul do Amazonas.
No século XVIII, muitas pessoas requereram enormes áreas de terras em
Mosqueiro, as léguas de "sesmarias" como era chamado o documento que
doava as terras pertencentes à Província Imperial. Entre estes beneficiados
estava o posseiro Padre Antônio Nunes da Silva a quem coube a doação das terras
da Baía do Sol, em 06 de dezembro de 1746. Contando com a mão de obra de
escravos africanos, seus herdeiros construíram sítios agrícolas como o Sítio
Conceição, ainda preservado, e Sítio Santana cujas ruínas de sua casa grande
encontra-se na propriedade do Hotel Paraíso. Na primeira metade do século XIX,
o Pará vivenciou a revolta dos Cabanos, assim nomeada por fazer referência às
habitações daqueles que formavam os maiores contingentes que integraram o
movimento. Faziam parte do movimento camadas sociais desfavorecidas como
caboclos, índios destribalizados e os negros libertos que moravam nas ilhas e
regiões próximas a Belém, além de alguns fazendeiros e comerciantes
inconformados com a política do presidente da província. No litoral de
Mosqueiro, importante reduto Cabano, havia dois pontos artilhados; o da Vila,
instalado nas barrancas da praia do Bispo, e o do Chapéu Virado, com artilharia
montada nos penedos que ali existiam. Eram desses pontos que os Cabanos atingiam
os navios que conduziam tropas, mantimentos, armas, munições e fardamento para
o marechal Manuel Jorge Rodrigues na ilha de Tatuoca e para as tropas de
Pernambuco que haviam aportado na ilha de Cotijuba. A resistência, instalada na
ilha do Mosqueiro, enfrentou as forças legalistas, em 21 de janeiro de 1836, em
plena praia do Chapéu Virado. Após horas de combate, vários mortos e feridos de
ambos os lados e sem munição, os Cabanos saíram em retirada pelas matas e rios
da região. Nas décadas seguintes à Cabanagem, Mosqueiro continuava com sítios
agrícolas, concentrados em sua maioria no norte do Arquipélago, e um pequeno
vilarejo ao sudoeste com suas casas localizadas, entre arvoredos, na beira da
baía. Sua vinculação à Freguesia de Benfica na condição de Vila, fez com que
este vilarejo viesse a dar origem ao bairro conhecido como Vila do Mosqueiro.
Quando vice-presidente da Província do Pará, o Cônego Manoel José de Siqueira
Mendes Sancionou a lei da Assembléia Provincial 563, de 10 de outubro de 1868,
criando a Freguesia de Mosqueiro e extinguindo a de Joanes. Em seu artigo 1º
lemos: "Fica criada na povoação de Mosqueiro uma freguesia sob a invocação
de Nossa Senhora do Ó...". A igreja que havia na povoação e pertencia à
Irmandade de Nossa Senhora do Ó foi indicada para matriz provisória e mandada
avaliar para a devida indenização à irmandade, promovendo-se a sua conclusão
pelo governo da Província, o mesmo ocorrendo com a obra do cemitério que ficava
ao lado da capela e pertencia à mesma irmandade. D. Macedo era então o bispo do
Pará e nessa qualidade designou em portaria de 02 de abril de 1869, para
vigário da nova freguesia, o padre de cinqüenta e um anos, Manoel Antônio
Rayol, que a aceitou e nela se radicou. O Século XIX chegava às suas últimas
décadas, Mosqueiro deixaria de ser Freguesia e passaria para a condição de Vila
de Belém em 06 de julho de 1895. A região começava a experimentar um novo ciclo
econômico que traria grandes transformações. Para Mosqueiro estavam reservadas
muitas surpresas
Colonização de
Mosqueiro
A
valorização da ilha do Mosqueiro, balneário distante 70 quilômetros de Belém
por rodovia, teve início no final do século XIX e está ligada aociclo
da borracha. Foram os estrangeiros, atraídos pela exuberância
da economia da capital, os primeiros a valorizar a ilha como local de veraneio.
Foram eles que construíram os casarões que ainda hoje podem ser vistos em torno
da orla das praias do Farol, Chapéu Virado, Porto Arthur e Murubira. Os barões
da borracha encamparam a descoberta. Começava assim o processo de ocupação da
ilha.
O
rio era então o único meio de acesso desta incipiente ocupação. A expansão
vigorosa do processo ocorreria somente em 1968 com a inauguração da estrada,
interligada por balsa. Foi um marco para a aceleração da especulação
imobiliária, que se expandiu em direção às praias do Ariramba e São Francisco.
A partir de 1976, a ocupação voltou a se intensificar com a construção da ponte
Sebastião Oliveira.
Em
Mosqueiro, os colonizadores se estabelecem nos terrenos altos, os "caris”
na língua indígena, próximo da enseada, onde dispunham de segurança para suas
embarcações. Quando chegaram à ilha, os portugueses já encontraram os índios
Tupinambás (os "filhos de Tupã"), que fugiram do Nordeste após as
invasões estrangeiras no litoral brasileiro. Bastante evoluídos para a época,
os Tupinambás sabiam falar a língua geral, o Nheengatu,
devido ao contato mantido com os estrangeiros. A partir do ciclo da borracha, a
vila entrou num processo de grandes mudanças. Junto com Belém, Mosqueiro passou
a conviver com a riqueza e o luxo e a usufruir as benesses trazidas pelo
acelerado desenvolvimento registrado na capital. Chegaram os ingleses da
"Pará Electric Railways Company", responsáveis pela instalação de
energia elétrica e de meios de transportes interno. Vieram também alemães,
franceses e americanos, funcionários de companhias estrangeiras como a
"Port of Pará" e a "Amazon River".
De
acordo com o IBGE, caso fosse emancipada, Mosqueiro, com 28 mil habitantes,
estaria entre os municípios paraenses de médio porte. Os moradores, porém, não
aceitam os números do censo. Para eles, a população está em torno de 50 mil.
Na década de 1990 andei muito por aí. Saudades!
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